O GT Hans Jonas da Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia (Anpof) divulgou Carta Aberta a respeito do episódio de rompimento da barragem de rejeitos Fundão, da mineradora Samarco , em Mariana, na Região Central de Minas Gerais, conforme se apresenta abaixo.
CARTA ABERTA DO GT HANS JONAS SOBRE O DESASTRE AMBIENTAL DE MARIANA-MGO GT Hans Jonas da ANPOF, reunido em Teresina-PI, entre os dias 18 e 20 de novembro de 2015, para o IV Colóquio Hans Jonas, que contou com a participação de pesquisadores de todo o país e do exterior, inspirado nos princípios da ética da responsabilidade formulada pelo filósofo alemão, vem a público denunciar a irresponsabilidade socioambiental das empresas Vale do Rio Doce e Samarco e se solidarizar com as populações afetadas pelo desastre ambiental que afetou toda a bacia do Rio Doce, em Minas Gerais e Espírito Santo. Essa é mais uma página no livro de catástrofes anunciadas que é escrito diariamente como resultado de políticas governamentais e iniciativas privadas nada preocupadas com o respeito à natureza e ao bem humano. Os danos ao meio-ambiente provocados em Mariana-MG são irreversíveis. Diante desse desastre, exigimos da União: investigação rigorosa e imediata punição dos responsáveis; revisão das leis nacionais que têm incentivado a depredação da natureza, especialmente aquelas que têm apoiado a ação das mineradoras; suspensão da aprovação do projeto de lei do novo código de mineração e abertura de um debate público sobre o assunto; ações urgentes e efetivas que reparem os danos e minimizem os impactos sobre a população afetada; e elaboração urgente de um plano de recuperação ambiental de toda a área afetada. Inspirados pelo Princípio Responsabilidade, obra magna de Hans Jonas lançada em 1979, acreditamos que acima do interesse do lucro desmedido, a natureza clama por responsabilidade para o bem das gerações presentes e vindouras. Diante da catástrofe de Mariana e em nome da preservação do futuro da vida em nosso planeta, é preciso “deter o saque, a depauperação de espécies e a contaminação do planeta que estão se desenvolvendo a toda velocidade, para prevenir um esgotamento de suas reservas, inclusive uma mudança insana no clima mundial causada pelo homem” (Técnica, Medicina e Ética, p. 49). Tal tarefa se faz urgente na medida em que é o nosso futuro que está em jogo e ele “inclui, obviamente, o futuro da natureza como sua condição sine qua non”. Nossa responsabilidade cresce, diante de fatos como esses, que comprovam que “o homem se tornou perigoso não só para si, mas toda a biosfera.” (O Princípio Responsabilidade, p. 229). Teresina, 20 de novembro de 2015. GT Hans Jonas da ANPOF
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O filósofo alemão Hans Jonas, que nasceu em 10 de maio de 1903, em Mönchengladbach, Alemanha, é autoridade obrigatória quando se medita sobre a questão ambiental e suas implicações. Ele estudou com Husserl, com o grande Heidegger e com Bultmann, e teve como companheiros de estudo Günther Anders e a filósofa Hannah Arendt, com quem cultivou uma amizade que duraria por toda vida. A filosofia de Jonas se viu influenciada pela de Alfred North Whitehead.
Em 1933, foi para a Inglaterra e de lá, em 1934, para a Palestina. Em 1940, retornou à Europa para participar do Exército Britânico, que havia formado uma brigada especial para judeus alemães que quisessem lutar contraHitler. Foi enviado àItália e, até o final da guerra, àAlemanha. Assim, cumpriu a promessa de somente retornar à sua terra se fosse como soldado de um exército vencedor. Imediatamente após a guerra voltou a Mönchengladbach, para buscar sua mãe, e descobriu ter ela sido enviada às câmaras de gás deAuschwitz. Sabendo disto, recusou a idéia de viver outra vez na Alemanha. Retornou à Palestina e tomou parte no conflito árabe-israelense de 1948. Apesar disso, sentiu que seu destino não era ser um sionista, mas ensinar filosofia. Em 1950, transferiu-se para o Canadá, lecionando na Universidade de Carleton e, em 1955, para Nova York, onde passou a viver. Faleceu em 5 de fevereiro de 1993, aos 89 anos, em New Rochelle, New York.
Hans Jonas voltou-se ao estudo do gnosticismo, consolidando-se como especialista mundial no tema e interpretando a religião como um ponto de vista existencial filosófico. É uma referência no campo das éticas deontológicas, com repercussão na bioética, tecnoética e ética ecológica. Tornou-se conhecido, também, por seus trabalhos sobre a filosofia da biologia. Desde o final dos anos 1960, Hans Jonas dirigiu sua atenção para as questões éticas suscitadas pelo progresso da tecnologia. Sua obra maior, The Imperative of Responsibility (O Princípio da Responsabilidade, publicada em 1979, em alemão, em 1984, em inglês, e, em 2006, no Brasil, O Princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica, lançado pela Editora Contraponto, Rio de Janeiro, com tradução de Marijane Lisboa e Luiz Barros Montez, 356 páginas, ISBN: 85-85910-84-4) teve importância marcante para o movimento ambiental na Alemanha e foi o motivo principal para lhe conferirem o título de doutor honoris causa em filosofia, em julho de 1992, pela Freie Universität Berlin. Recebeu, depois, em Udine, Itália, uma homenagem e um prêmio pela tradução italiana da obra. O livro se concentra nos problemas sociais e éticos criados pela tecnologia e é uma avaliação extremamente crítica da ciência moderna e de seu braço armado, a tecnologia. O filósofo aponta a necessidade de o ser humano agir com parcimônia e humildade diante do extremo poder transformador da tecnociência, e se concentra nos problemas éticos sociais criados pela tecnologia. Jonas sustenta que a sobrevivência humana depende de nossos esf
orços para cuidar de no
sso planeta e de seu futuro. Jonas propugna por um novo princípio de moralidade: “Aja de tal modo que os efeitos de sua ação sejam compatíveis com a permanência de uma vida humana genuína”. A biologia filosófica de Hans Jonas tenta proporcionar uma concepção una do homem, reconciliada com a ciência biológica contemporânea.
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