O processo de industrialização trouxe conforto à vida moderna com a produção de bens de consumo em larga escala. Grande parte desses insumos tem na sua formulação produtos químicos que passaram a ser produzidos em larga escala.
A despeito das etapas do processo que envolve produção e distribuição de substâncias químicas, quais sejam a transformação, o transporte, o armazenamento e o manuseio, apesar das ferramentas de controle disponíveis, não é possível eliminar 100% dos riscos de ocorrência de acidentes.
Os acidentes tecnológicos, os acidentes ambientais e as emergências químicas em geral, dependendo das características físicas, químicas e toxicológicas das substâncias envolvidas, podem originar diferentes impactos, causando danos ao meio ambiente, à saúde e à segurança pública.
A CETESB – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo – define o termo emergência química como uma situação envolvendo produtos químicos que pode, de alguma forma, representar perigo à saúde e segurança da população, ao meio ambiente e aos patrimônios público e privado, requerendo, portanto, intervenções imediatas.
Ambientes que ofereçam riscos decorrentes das atividades relacionadas aos produtos químicos e que estejam, por força legal, sob a supervisão de técnicos responsáveis, como é o caso das indústrias, seguem padrões de segurança que buscam prevenir a ocorrência das emergências químicas e, caso ocorram, planos de intervenção são implementados, com o intuito de minimizar suas consequências.
As emergências químicas não se restringem a processos industriais, podendo ocorrer durante o transporte em rodovias, em instituições de ensino e até mesmo em residências. O que chama a atenção dos especialistas é o percentual elevado de acidentes que se originam pela ausência de percepção do risco por parte dos envolvidos, consequência da falta de conhecimento básico relacionado à segurança com substâncias químicas. Este fato confere alta prioridade à educação em Segurança Química no país.
A CETESB participa de atendimento a ocorrências envolvendo substâncias químicas desde 1978, em atividades variadas e em situações diversas. São comuns as emergências em situações que poderiam ser evitadas ou ter suas consequências minimizadas, se os envolvidos tivessem conhecimento básico dos riscos associados ao manuseio inadequado dos produtos químicos.
Situação característica da ausência de educação básica em Segurança Química ocorreu em uma empresa de galvanoplastia, no município de São Paulo, onde quatro pessoas foram a óbito em acidente provocado por trabalhador que realizou mistura de substâncias incompatíveis, resultando na geração de gás cianídrico, que possui alta toxicidade.
Este fato demonstra, claramente, que a ocorrência de imperícia, imprudência ou negligência na manipulação de produtos químicos sem o conhecimento básico dos procedimentos de segurança pode resultar em tragédia.
Outro caso emblemático ocorreu no município de Taboão da Serra, onde após ter controlado incêndio em galpão de armazenamento de botijões de GLP – Gás Liquefeito de Petróleo, o responsável pelo comando da operação orientou sua equipe a romper as válvulas dos botijões, que ainda permaneciam cheios, para liberar o gás e assim diluí-lo na atmosfera.
Por falta de conhecimento primário em Química, a ação da equipe permitiu que o gás, mais pesado que o ar, invadisse a rede de esgoto até atingir o interior de duas residências onde encontrou uma fonte de ignição, provocando explosão e a morte de três pessoas.
Os acidentes caseiros também são muito comuns e, em sua maioria, acontecem como resultado da falta de orientação quanto ao manuseio de substâncias químicas. Em minha residência, a pessoa contratada para fazer a limpeza, misturou alvejante (hipoclorito de sódio) com Ajax (produto à base de amônia), objetivando maior poder de limpeza, e provocou a geração de gases tóxicos (cloraminas) que quase provocaram um sério acidente.
Fica claro ser imprescindível, em todas as situações de manipulação de substâncias químicas, o conhecimento básico sobre suas características físicas, químicas e toxicológicas, bem como evitar a mistura de produtos químicos, sob risco da ocorrência de graves acidentes.
Essas e outras histórias de acidentes envolvendo produtos químicos demostram ser prioritária a inclusão do tema Segurança Química na grade curricular nos níveis de graduação, criando-se condição para a formação de professores capacitados no tema, com olhar voltado à educação fundamental, intensificando assim a proteção da saúde da população e do meio ambiente.
A proposta é construir conhecimento específico, já na idade mais tenra, e estimular a sedimentação do conceito de sustentabilidade por meio de materiais educativos que permitam o aprofundamento do conhecimento sobre substâncias químicas, sua importância, suas aplicações, suas propriedades, seus efeitos adversos e os cuidados necessários para evitar danos às pessoas, às instalações, aos equipamentos e ao ambiente.
Agnaldo Ribeiro de Vasconcellos, MSc
Químico do Setor de Atendimento a Emergências da CETESB