Como você atravessa a rua? Como você dirige? Como está a instalação elétrica de sua casa? Você sabe quais produtos químicos são mais agressivos à sua saúde e estão à sua volta no lar, no trabalho e no meio ambiente? A segurança está na sua cultura ou precisa de alarmes para chamar a sua atenção? Faz parte de seus hábitos ‘dar a volta’ em algumas medidas de segurança – por exemplo, ‘se beber não dirija’ – e por isso se sente “esperto”? Pois saiba que você está ‘dando a volta’ em você mesmo e não está sendo “esperto”.
Existe uma necessidade de desenvolvermos o conceito de uma segurança abrangente, que penetre em nossas raízes, que esteja no nosso consciente e no inconsciente. Por exemplo, quando você entra no carro e pensa: – Já coloquei o cinto de segurança? e ao verificar, confirma que já o fez, significa que já está no ‘automático’. Como disse um dos principais propulsores do conceito de Cultura de Segurança, Edgar H. Schein, autor do livro Cultura Organizacional e Liderança, ‘cultura é aquilo que fica quando você esquece tudo’.
Historicamente sabemos que muitas vezes é com o acidente que o homem aprende, é sob a pressão da dor que ele melhora a prevenção. Entretanto, será à luz do conhecimento dos processos e riscos correspondentes que o homem poderá prevenir tragédias pessoais, ambientais e mesmo as de grandes proporções.
Precisamos melhorar nossa cultura de segurança, de saúde, de vida! As possibilidades de danos estão no nosso entorno, nas instalações domésticas, urbanas e industriais, na produção, uso e descarte de produtos químicos presentes, por exemplo, na medicina e na limpeza. Buscar a prevenção desses danos potenciais significa minimizar riscos, salvar vidas, proteger a saúde, possibilitar a felicidade do ser humano. Então, o desenvolvimento de uma cultura de segurança, uma cultura de saúde é fundamental para o nosso bem-estar.
Os indicadores de desempenho nas áreas do trabalho e da saúde no Brasil têm ainda muito a melhorar. Indicadores europeus já demostram a significância dos males acarretados pelo lidar com produtos químicos de forma irresponsável, causando mortes, doenças a curto e longo prazo – que, em alguns países, não são acompanhadas e, consequentemente, não relacionadas com o uso de agentes nocivos.
Os dados apresentados em 2015 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP_SDG_FactSheet_March13_2015) alertam que, atualmente, a principal causa de mortes no mundo é a poluição química, resultante de produtos químicos presentes nos resíduos sólidos, efluentes líquidos e emissões atmosféricas que comprometem a qualidade do ar, da água e dos alimentos.
Em virtude da baixa cultura de segurança e da precariedade na legislação e na fiscalização, 94% dessas mortes ocorrem nos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, como o Brasil. Isso ostentou a necessidade de uma contínua melhoria da cultura de Segurança Química. Para tal temos que atuar através dos órgãos públicos, empresas, universidades, organizações não governamentais e outros segmentos da sociedade organizada.
É fundamental considerar o desenvolvimento desse conceito e conscientização na educação e treinamento nos diversos níveis, da formação básica à pós-graduação. Nesse sentido, o governo brasileiro designou a Comissão Nacional de Segurança Química – CONASQ para liderar avanços nessa área, mas um longo caminho ainda tem que ser percorrido para alcançarmos o nível desejado.
Algumas características necessárias a uma cultura de segurança bem desenvolvida são destacadas por um outro organismo das Nações Unidas, a Agência Internacional de Energia Atômica, uma das maiores multiplicadoras desse conceito. Resumindo-as: a segurança deve ser priorizada, precedendo a produtividade e a economia; os líderes são essenciais na valorização da segurança; as responsabilidades pela segurança devem ser claramente definidas e os requisitos legais e técnicos atendidos; empregados e prestadores de serviço devem ser treinados e qualificados quanto à segurança; os riscos à saúde e à segurança, bem como os impactos ao meio ambiente devem ser minimizados ou eliminados; a comunicação deve valorizar a segurança e promover a imediata identificação de condições inseguras, e as práticas relacionadas à segurança devem ser continuamente aperfeiçoadas.
Conclamamos a todos que se unam nesse esforço nacional e mundial para a melhoria da Segurança Química no Brasil.
José Manuel Diaz Francisco
Engenheiro Elétrico pela UFRJ.
Gerente de Revisões de Segurança Operacional na Agência Internacional de Energia Atômica de 1993 a 2001.
Gerente de Segurança e Comunicação da Eletronuclear de 2001 a 2014.
Atividades atuais: Consultor em Cultura de Segurança e Membro do Grupo de Trabalho de Educação em Segurança Química da CONASQ/MMA.
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